Com um quadro autorizado de mais de 13 mil policiais, a PRF conta hoje com cerca de apenas 9 mil homens para fiscalizar os mais de 66 mil quilômetros de rodovias federais. A própria inspetora já reconheceu que é necessário um número maior de policiais para garantir uma melhor fiscalização do trânsito nas rodovias sob responsabilidade da União.
Na última segunda-feira, dia 2, a Comissão Nacional de Mobilização (CNM) do sistema sindical dos policiais rodoviários federais se reuniu com o ministro José Eduardo Cardozo e com a inspetora Maria Alice para discutir os assuntos que têm preocupado a categoria, entre eles, a gestão do efetivo. "Nós vamos querer o compromisso do departamento na busca dessa melhoria do efetivo. Para que eles briguem junto conosco por isso, porque o déficit de policiais é muito grande", explicou Paulo Arcoverde, coordenador da CNM. Até o momento não foi possível obter informações sobre o resultado da reunião.
O número reduzido de policiais tem sido apontado com uma das causas diretas dos altos índices de violência nas rodovias federais, sobretudo nos feriados prolongados. No Carnaval deste ano, mesmo a PRF tendo mobilizado praticamente todo o seu efetivo, foram registradas, em seis dias, 213 mortes em 4.165 acidentes. Os dados correspondem a um aumento de 47,9% no número de mortes e de 28,7% no de acidentes em relação ao ano anterior.
No último feriado prolongado da Semana Santa, conjugado com o feriado de Tiradentes, os números sofreram uma pequena redução, mas permaneceram elevados: nos mesmos seis dias, foram registradas 175 mortes em 3.861 acidentes, sendo que nessa aferição foram computados os dados do dia anterior à véspera do feriado, quando normalmente o fluxo de veículos ainda é pequeno nas rodovias.
Além da violência no trânsito, a escassez de policiais rodoviários se reflete também no enfraquecimento do combate ao crime organizado - o que facilita o deslocamento de armas e drogas por todo o país - e à exploração sexual de menores ao longo das rodovias federais. "Para fazer um bom trabalho, nós precisamos de um efetivo razoável", afirmou Arcoverde.
Para Copa e Olimpíadas, a demanda é de 20 mil policiais
Também consta no plano de ação da nova direção da PRF, como uma das principais medidas, a preparação para atuar em grandes eventos. Entretanto, o tópico é apresentado como algo a ser atingido a longo prazo, quando todos os preparativos do país para a Copa do Mundo de 2014 já sofrem pressão da opinião pública para que se evite atrasos, que causariam um grande constrangimento ao país frente à comunidade internacional.
Outros pontos que seriam abordados na reunião estão a valorização da categoria e a realização de concurso também para a área de apoio do departamento. A seleção está inserida no contexto da substituição de terceirizados em situação irregular no Executivo federal e, segundo Arcoverde, ainda iria permitir o aproveitamento de policiais que hoje estão desviados de função, exercendo atividades administrativas.
Ministro da Justiça é peça fundamental
Conta a favor da categoria a sensibilidade demonstrada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com relação às demandas do departamento. E segundo noticiou o Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais do Ceará (Sinprf-CE), na última reunião realizada com membros da CNM, anterior à do último dia 2, na qual a comissão apresentou uma proposta de modelo de gestão para o órgão, o ministro da Justiça afirmou que a presidente Dilma Rousseff tem conhecimento dos problemas da PRF e lhe deu autorização para resolvê-los.
No que diz respeito ao efetivo, os principais problemas a serem resolvidos de imediato seriam a convocação dos excedentes do concurso de 2008 (aberto com vagas para o Pará e o Mato Grosso) e a retomada do concurso de 2009 (para o restante do país), paralisado desde novembro daquele ano devido à fraude nas provas objetivas.
O primeiro caso está praticamente solucionado, uma vez que Cardozo informou que a presidente Dilma já autorizou a convocação dos excedentes daquele concurso, em mais uma mostra de que os casos essenciais estão alheios ao adiamento de concursos e nomeações do governo federal. Segundo o Ministério do Justiça, o processo referente às convocações está tramitando no Ministério do Planejamento. Existe a expectativa de que a autorização seja formalizada nas próximas semanas.
O ministro também seria um entusiasta da possibilidade de recomposição anual do efetivo do órgão. O tema foi um dos que despertou interesse especial de Cardozo no encontro em que lhe foi apresentado o plano de ação da nova direção do departamento, segundo divulgou a Assessoria de Comunicação Social da PRF.
Impasse do concurso de 2009 pode ter fim
Já a retomada do concurso de 2009 depende do fim de um imbróglio judicial que se arrasta há meses. Recentemente, a Justiça se posicionou a favor da União em processos que têm a FunRio (que organizou a seleção) como antagonista, seja como ré ou como autora.
Em um deles, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) revalidou a rescisão do contrato entre a fundação e o departamento com vistas à organização do concurso. O vínculo foi desfeito unilateralmente pela PRF, que alegou que a FunRio falhou ao garantir a segurança da seleção.
Após a rescisão, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF- RJ) informou que a fraude teve participação de funcionários da organizadora, mas não invalidou a seleção, já que não houve indícios suficientes de violação prévia do sigilo dos gabaritos preliminares ou dos cadernos de questões.
Já a Justiça Federal do Distrito Federal determinou o bloqueio de bens da fundação em até cerca de R$3,8 milhões, valor referente às despesas com o pagamento dos professores do curso de formação, segunda etapa do concurso. A PRF, no entanto, já informou que, até o momento, não há decisão que garanta a retomada da seleção.
Uma manifestação do TRF1, entretanto, pode por fim ao impasse. De acordo com o vice-presidente do Sindicato da Polícia Rodoviária Federal de Goiás (Sinprf-GO) e membro da CNM, Renato Dias, que também participou da reunião com o ministro Cardozo e a inspetora Maria Alice, a PRF depende apenas do banco de dados do concurso para prosseguir com o processo.
Logo após a publicação do resultado do julgamento, por meio do qual a rescisão de contrato com a FunRio foi revalidada, a União opôs embargos de declaração ao processo. Os embargos de declaração são usados para buscar um esclarecimento a cerca de uma decisão proferida.
Na ocasião, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que os argumentos apresentados só poderiam ser conhecidos após a apreciação da Justiça. Mas, segundo explicou Dias, o que se está buscando é justamente a devolução do banco de dados do concurso. "A União entrou com os embargos declaratórios para que o desembargador aclare a sentença no sentido de determinar a devolução do banco de dados", afirmou o sindicalista. "Com o banco de dados, a retomada do concurso é imediata", concluiu.
Fonte : Folha Dirigida
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